31 dezembro, 2005

"Vocês jovens de hoje em dia andam sempre com a cabeça no ar. Dá cá o fiambre."
E dirigem para as cebolas. "Queres de quais, Rafael?"
"Quero cebolas." responde meio apressado.
"Queres estas ou as roxas?"
Lembrando-se disse "Ah sim das roxas." recebe as cebolas "Pode pôr na conta. Até logo D. Odete."
"Adeus Rafael, e dá um beijinho à Zézinha."
Rafael já não ouviu nada e foi a correr para casa para não ficar mais envergonhado.

30 dezembro, 2005

Rafael já não sabia onde se esconder de vergonha, se atrás da caixa de alfaces, se atrás das bananas do Camboja. O vermelho das bochechas não diminuíam, pelo contrário, estava cada vez mais vermelho já a ir para o roxo.
"D. Odete, eu quero um quilo de fiambre." diz ele todo atrapalhado para sair rapidamente da loja, esquecendo-se do pedido real da Mãe.
Saiu disparado sem olhar para trás, deitando abaixo a caixa de Chupa-Chups ao chão. "Então, Rafael, olha para onde andas."

29 dezembro, 2005

"E nome para o rapaz?"
"Olha eu e o meu Carlos ainda não sabemos. A minha santa sogra ofereceu-nos um dicionário de nomes para ver que tipo de pessoa é que queremos da nossa criança, mas ainda não sabemos."
Rafael diz com o sorriso escondido ao canto da boca "E se for Rafael, é um nome bonito."
"Tanto é um nome bonito como um rapaz bonito e bem constituído. Tu já deves ter namorada. Quando é que a apresentas à tia Odete?"
Rafael ficou meio embaraçado com a pergunta e mais vermelho que o mais vermelho dos tomates que havia no supermercado da Odete.

28 dezembro, 2005

Virou as costas e saiu do café.
"O Rafael já ia em direcção ao supermercado da dona Odete quando a mãe gritou "Rafael, não te esqueças, eu quero um quilo, mas das roxas."
"Está bem, está bem." sem se virar confirmou.
Chegado ao supermercado da dona Odete, senhora de 30 anos e grávida de sete meses:
"Bom dia, dona Odete, então já sabe se é menino ou menina?"

27 dezembro, 2005

O olhar dela fez com que ele se levantasse do sofá, que já emanava calor de ele estar há tanto tempo sentado.
Levanta-se e vai directo à casa de banho para se lavar pois não eram umas gotas de Old Spice que iam safar o cheiro de cama que ele tinha.
Gertrudes entra no café e Rafael vê-a primeiro e tenta-se esconder. "Olha a tua mãe Rafa!" diz o João em bom som.
Rafael levanta-se e cruza o olhar com o da mãe.

26 dezembro, 2005

Maria acaba o discurso incendiário, passados dois segundos estava tudo a falar do jogo do Académica para a Taça UEFA.
Maria vira as costas e vai para casa.
Chegada lá, "Ó Maria, o teu primo? Onde está?"
"Está com os amigos no café a beber e a falar de futebol." tudo para incriminar o primo.
"Olha que boa ideia, vou ao café" diz Gilberto.
"Não te levantas daí. Vai-me tirar esse fato de treino. Vai-te lavar que eu vou buscar o teu filho." enfurecida Gertrudes atira o avental para o chão e sai porta fora.

25 dezembro, 2005

"Não sei nem quero saber, quem disse aquilo à bocado mas eu fiquei muito tri..."
"Agora foste pintar os olho de vermelho." disse João um amigo do Rafael mais conhecido pelo Vesgo.
A galhofa voltou à mesa.
Rafael engole o riso quando a prima vira as costas para eles.
"Espera Maria." diz Rafael com um tom preocupado.
"Vou dizer à minha mãe."

24 dezembro, 2005

Rafael primeiro desviou o olhar, mas a educação não lhe permite isso.
"Pessoal esta é a minha prima Maria."
O melhor amigo do Rafael era um desbocado, baixou a cabeça e disse. "Pintas os lábios para tentares disfarçar a beleza, ó boa?"
A galhofa foi total, Rafael corou e Maria saiu disparada pela porta, entornando uma bandeja de cafés, ficando com as margaridas do vestido todas castanhas.

23 dezembro, 2005

O Tiago, marido da Carmelinda, já andava à volta do bacalhau enquanto a verruga dela tinha ido à casa de banho, pois a tia Cácá estava muito afilita.
"Ouve lá ó Gilberto a tua irmã anda cada vez mais maluca." Gilberto franze os olhos "Agora pensa que tem a idade da tua sobrinha. Aquela mini-saia mais parece um cinto.
"Ah. Deixa-a a estar." diz desprezando o comentário e encolhe os ombros.

22 dezembro, 2005

"O que é que se passa com o teu filho?" indagou enquanto beijava o irmão. "Parecia meio perdido. E aqueles amigos dele não me inspiraram confiança nenhuma."
"Quais amigos?" pergunta Gertrudes "Eu disse-lhe que fosse comprar cebolas." Debruça-se na janela "Ó Rafaeeeel! As cebolas são para comprar, não para plantar. E ainda é para hoje."

21 dezembro, 2005

"Então Rafael nem um beijinho à tua tia Cácá?"
A tia Cácá era uma senhora de meia-idade com uma verruga peluda do tamanho do mundo.
"Ó tia... ah... tenho de ir comprar cebolas à minha mãe." a tentar esquivar-se do beijo.
A tia agarra-o e dá-lhe um primeiro beijo que acerta mesmo na verruga enquanto ela diz "Não ias comprar cebolas?".
Ele foge ao segundo

20 dezembro, 2005

Um silêncio cavernoso vem de dentro do quarto do rapaz, seguido de um "Não!" e ao dizer não a voz fugi-lhe para os tons mais agudos.
A mãe e Mariazinha que estavam à porta conterão o riso.
"O que é que se passa?" pergunta o pai que estava noutro planeta.
Rafael abre a porta e sai a correr porta da rua a fora.

19 dezembro, 2005

A mãe sai da casa de banho e com ela sai também um berro de dentro dela.
"Olha a minha sobrinha mais querida!" beija-a e puxa-lhe as bochechas como não houvesse amanhã.
"Ó Rafael vem dar um beijinho à tua prima. Trouxeste as cebolas à mãe?"
Mariazinha ainda combalida das bochechas diz.
"Acho que ele não as trouxe. Eu posso ir comprar as cebolas com ele?"

18 dezembro, 2005

Rafael entra pela casa de banho a dentro, mas não se lembra que sua mãe estava lá dentro. Ela estava com as saias em baixo.
"Sai daqui!" grita a mãe.
Sai da casa de banho e dá de caras novamente com a miúda sardenta que há bocado lhe tinha lambido a boca, pelo menos para ele foi essa a sensação.

17 dezembro, 2005

Rafael quando desce as escadas vidrado na ideia de que ia comer bacalhau, dá de cara com Mariazinha. Rafael sorri e diz "Olá Mari...". Quando ela lhe espeta um beijo na boca.
Rafael cora e corre como um desalmado de volta para casa.

16 dezembro, 2005

"Ó mãe o que é hoje para o jantar?"
A mãe da casa de banho grita.
"Bacalhau à Zé do Pipo."
Rafael quando ouviu a palavra bacalhau, arregalou logo os olhos e a salivar. "Hummm! Bacalhau, à Zé do Pipo."

15 dezembro, 2005

A mãe vai a correr para a casa de banho, porque já há muito estava aflita. O pai fica a olhar para a mulher a correr como uma maluca e rapidamente olha para o filho. E diz asperamente
"Nem penses que te vais sentar ao colo dele durante a hora do jantar, deixa o homem comer à vontade." E levanta-se.

14 dezembro, 2005

Ela começa a ficar vermelha de raiva, mas não explode. E diz calmamente.
"Nós temos a TV Cabo, há mais 300 canais e tu tinhas de ir para o canal... 301."
"Ah?" diz Gilberto.
"Muda de canal e tira-me esse fato de treino já carcomido pela traça porque vem cá jantar a tua irmã"

13 dezembro, 2005

O jornal "A Bola" no colo e a fumar. Já com um grande borrão na ponta do cigarro.
"Isto é lindo!" grita encolerizada a mãe, ele dá um pulo, como o filho também. O borrão cai para as calças. Enquanto na televisão estavam dois homens a comer freneticamente uma mulher com grande busto. "A fumar e a ver... sexo... na televisão com o teu filho a assistir".

12 dezembro, 2005

A mãe fica a olhar para o filho por uns segundo.
"Tu tens a camisola cheia de manchas. Essa camisola que a tia Tátá te ofereceu pelos anos. Vai tirá-la pois ela vem hoje cá jantar."
Rafael vira-lhe as costas.
"Não te esqueças de pôr no cesto da roupa de cor".

11 dezembro, 2005

"Eu tinha-te dito que tinha ouvido a primeira gota de água a cair!"
A mãe pára de praguejar por dois segundos, olhando para o filho, mas a chuva não pára de cair e a roupa está cada vez mais pesada de água.

10 dezembro, 2005

Gertrudes estava a estender a última peça de roupa e começa a chover torrencialmente. Rogou pragas a toda a gente, enquanto o seu filho assistia ao espectáculo.